terça-feira, 19 de agosto de 2014

Para periferia, ocupar o espaço público significa enfraquecer a cultura do medo


Por Joseh Sillva
Apesar do plantio da repressão, assassinatos, ausência de políticas públicas, a periferia mostra que está colhendo bons frutos e fazendo seu trabalho de base



Na periferia, a rua é um ambiente que transita entre o perigoso e acolhedor. Se trata de um lugar de abandono e acolhimento. Para muitos, na periferia, a rua tem conotação de violência. “’Menino a rua é perigosa’, gritava minha mãe quando eu pretendia ir para a rua à noite”, é o que diz Marcelo Paz, 22 anos, morador do Jardim Campo de Fora, região do Capão Redondo, zona sul de São Paulo.  

Toda a violência que a periferia sofre, gerou em seus moradores um medo que cria, em muitos bairros uma situação de cárcere social; as pessoas se privam de sua liberdade por questão de sobrevivência.

Não se trata de uma situação de vitimização, mas, na favela, ao longo dos anos se construiu a ideia que “se a pessoa está na rua à noite, é vagabundo ou está fazendo algo de errado”, discurso que a própria periferia assumiu. Enquanto quem  está nas ruas em bairros onde há maior concentração de pessoas da classe media alta, como a Vila Madelena, "está se divertindo".

Há uma situação muito clara que evidencia isso: Existe um dilema criado em cima dos pancadões que aconteciam em ruas da periferia. O Pancadão, nada mais é que um carro, ou alguns, com som ligado em auto volume, mas o ritmo que está tocando é funk estilo Carioca. Ritmo ridicularizado por ser uma música de favela.

Nesses lugares, quando o efetivo da Policia Militar é enviada para dispersão dos jovens que ocupam o espaço público para se divertir -  sendo que quem deveria intervir seria a Guarda Civil Metropolitana, Prefeitura e equipe do Programa de Silêncio Urbano (PSIU), bomba de gás lacrimogênio, spray de pimenta, bala de borracha, cacete e  repressão tomam  conta do ambiente.

É por essa forma de tratamento repressiva, que a periferia tem medo de frequentar um ambiente convivência e de uso coletivo, a rua. O que não é um preocupação em algumas bairros de classe media.

Durante os jogos da copa do mundo, a Vila Madalena foi tomada por estrangeiros, que causaram muitos problemas para a região, que não estava preparada para receber aquela quantidade de gente. Durante as confusões e quando os torcedores não queriam ir embora, os policias educadamente dispersava com pedidos de “retirem-se, por gentileza, no megafone”.

Com muita persistência, alguns coletivos, indivíduos e organizações, estão conseguindo dar outro sentido para a rua, estão resignificando este espaço. Por conta da contínua efervescência da cultura periférica, diversos grupos que atuam com linguagens artísticas, estão mostrando seu trabalho de forma aberta para todos – e em algumas casos de graça.

Desde 2009, Anderson Verdiano Agostinho, 33 anos, organiza com amigos uma roda de leitura e exibição de filme em uma viela no Jardim Ibirapuera,  zona sul de São Paulo; O coletivo Imargem, dá região do Grajaú, desenvolve trabalhos de artes visuais com um olhar voltado para o meio ambiente, por ser uma região que é área de manancial. Em agosto o coletivo colabora com a Virada Sustentavel e a edição 2014 do Estéticas das Periferias; No dia 21 de junho deste ano, aconteceu na Cohab Adventista, centro do Capão Redondo, o Festival Percurso, em que reunião economia solidária e cultura.

Estes são três exemplos que, apesar do plantio da repressão, assassinatos, ausência de políticas públicas, mostra que a periferia está colhendo bons frutos e fazendo seu trabalho de base. 

Programação completa Estéticas das Periferias e Virada Sustentável 

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